18.1.10


Quando exala o silêncio mórbido, sons de algum acorde corpóreo transita por entre os poros. Dispersando a sutileza do irreal. Fazendo emergir, o irracional.


Muitas vezes sentia, desesperadamente, vontade de gritar seus questionamentos aos quatro ventos, onde, a seguir, alguma brisa, uma doce brisa, perfumada com a carnificina mundana, lhe traria, jogando fortemente aos seus ouvidos, algum pesar imoralmente descontente.


Certo dia, observando algumas nuvens, gritou, e a tal brisa, transformada em punho, tirou-lhe três dentes de sua podre arcada. O que vinha consequentemente, não era outra coisa se não o questionamento. Um novo. Mais um. Um outro. Mas, dessa vez, esperou as estrelas, junto a lua. E, ao gritar, aguardou a brisa que, metamorfosiada em garras, esfacelou sua carne até os ossos. Não obstante, surgia, como que de costume, outro questionamento. Aguardou a chuva. Cálida e bela. Acompanhada de raios, trovões...infernos! belíssimos infernos!

E, assistindo a esse espetáculo, sentado ao chão, soltou um grito, encharcado de infernos e raios. A chuva, com o auxílio do nobre vento, socava, sem pesares, sua pálida e ossuda face, forçando seus olhos a não verem o A seguir. A brisa. Que já com garras, trazia, agora, dentes enormementes afiados! como o reflexo humano! um demônio. Mordia. Rasgava. Mastigava. Nervo a nervo. Veia a veia. Toda a pele. Todos os ossos.

Após esse prazeiroso encontrar, sem pele, sem ossos, grita, novamente.
E ainda aguarda, no limbo, sentado, em seu castelo.

9.1.10



Um dia, após caminhadas e descobertas infernais, sentou-se. E repousando, sem medir tamanha discordância, deitou-se. Uma paz inexistente, tal como a palavra em si, invadiu suas entranhas, devorando seu apetite, carnalmente desnescessário. Não procurou encontrar razões, até porque, ali, deleitando-se no limbo fulgaz, não havia nada. Apenas o silencioso, furtivo, e aclamado limbo.


Um corvo o observa, sendo observado. Pousa em seu ombro. E com uma irregular afeição, talvez,

olhando em seus secos e miseráveis olhos, diz:




_ huhiuhnui8ebdk !




_ Onde está o mensageiro ?? - indaga -




_ hrehhiuiriuh79hy !




_ Concordo...




E ao voar, plena e belamente, o corvo, jogando aos ares suas indescritíveis plumas negras, recitou, algum tipo de prece, sendo ouvida apenas pelos astros mais altos.


A seguir, sentindo delicadamente sua carne perfurando, observando o absoluto plainar do corvo, foi vagarosamente sentindo os sentidos mundanos. Aqueles que se agarram ao ser, deixando apenas a fétida carne, altamente perfumada com os odores suicidais, insuportavelmente agradável.


O intragável ser. O intragável repousar...



Voa, belissimo, o Corvo.

4.1.10

Dia ...


... e passando por sombrios e, inevitalmente, confortáveis vales, sinto em minha carne,minha pobre e podre carne, um surpirar, profundo e quente, em meio a solitária trevas. - Quem és - eu pergunto, sendo indagado, a seguir, por um silêncio cálido. Inutilmente iluminado por uma lua opaca e amarelada.

Em minha loucura, alguns desses feixos de luz ganham formas. Revelando-me, levemente, seus olhos...esses olhos púrpuros e cintilantes, contrastando, com essa névoa cinzenta.

É, talvez sejam eles - deliro eu - me guiando por abismos. E seu respirar, me aquecendo o frio pavoroso, desse mundo desorientado.


A chuva cai, sem pesares...

2.1.10



Em meio ao confortável inferno, e visando suas possíveis possibilidades de algum motivo menos formalístico, viu-se, deparado com algum tipo de mágica. Não aquelas que fazem a multidão, enfurecida, e, quase sempre, desmotivada, barulhar aclamadamente. Não. Não essa.

Dessa vez, algo...

Uma doce brisa, gélida, como quando passeamos pelas trevorosas barreiras do pensar existencial. Como quando o querer, torna-se uma barreira intranspassável. Sólida. Como as belas e delicadas cores, do rosto decomposto do palhaço. Símbolo. Um inusitado conto grotesco. Algum controle sutil, fútil, da pobre mente humana. Um caminhar prazeirosamente pacífico por entre os mortos.



_ Simplório, meu caro ? - cínico, o mensageiro -



_ Possivelmente !


_ E o que esperas, afinal?


_ humm... nada?


_ Ainda, assim, surpreso.!?



_ Possivelmente.



_ O nascimento, inesperado, do falecer.



_ Mas...estamos vivos?


_ Quem o sabes ? Ademais, o que isso importa.


E, adiante, ardências oculares se seguiam...Cores mesclando formas...

Que, refletidas no chão de água, revelava-nos, nossa minúscula grandeza. A não certeza do drama à afeição; o nobre ao tolo; o controle do cuidar, o controlar do qerer...ser.

Ser? O que? . Melhores? Em que?

Ainda, assim, esperamos. Queremos. Planejamos. Envaidecemos. Escrevemos... cantamos, nossas singularidades. Boçalidades.

Formas mesclando cores...o chão água...


_ O mais importante, - sorrindo, o mensageiro - meu impertinente pedaço de carne fétida, é que ninguém se importa.


_ Nem eu! Nem você! - sorrindo, ao mensageiro -


_ Um cigarro?


_ Por favor!


_ Agradecido. - gargalhando, o mensageiro -



Ah!, o mundo sempre foi, um circo, afinal. Onde todos representam o bem e o mal. Onde a farça, de um palhaço, é natural.
Alguém. que não sei quem.